segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Recantos de Alma

No sábado à tarde decidi dar uma oportunidade a mim própria de conhecer um pouco melhor os locais que me rodeiam, uma vez que já mudei de casa há algum tempo e conheço muito pouco do ambiente circundante. Por isso, e uma vez que no sábado o tempo ajudou, peguei em mim e fui até Sesimbra.
A praia estava lindissima, com raios de luz dourada a tentarem romper as nuvens cinzento-azuladas que cobriam o mar cheio de vida, que se enrolava na areia e deixava entrever um colorido avermelhado e branco de conchas e pequenas pedras. Deixei a brisa e o cheiro a maresia invadirem-me e os meus pés enterrarem-se na areia enquanto via a espuma das ondas bem perto de mim.
Quando saciei os sentidos decidi enveredar pelas ruas mais estreitas e escondidas de Sesimbra e descobri aquilo que me pareceu uma "Alfama piscatória". As ruas estreitas ladeadas de escadinhas com corrimões continham pequenas portas que espreitavam quem passava. A roupa estendida nas janelas ou na rua trazia um ambiente familiar e íntimo, tal como as pequenas tascas e restaurantes onde as especialidades eram o peixe e o marisco. Um cenário de paredes brancas, onde por vezes se ouvia música que provinha das casas ou sorrisos e palavras cruzadas de quem se encontrava na rua.
Através de uma porta castanha um rádio antigo expunha as suas emoções mais profundas numa qualquer música antiga, daquelas que já não se ouvem mas fazem parte do nosso património interior. Espreitei. Um homem de idade avançada encontrava-se sentado de forma imponente numa poltrona castanha, como um rei no seu trono. O ambiente alaranjado e escuro que provinha do interior revelou uma segunda pessoa que se movimentava à volta da poltrona: um homem de cabelos brancos manuseava com mestria diversos utensílios enquanto a música continuava a rodar, rodar... O barbeiro e o cliente olharam para mim quando passei.
O fim de tarde aproximava-se, trazendo uma luz ocre que foi encerrando as colinas do sol. Entre numa pastelaria e as pequenas chaleiras fumegantes que estavam presentes na maior parte das mesas aqueciam o ambiente e a alma.
Já de regresso a casa ainda houve tempo para entrar numa papelaria e comprar a Caderneta de Cromos do Grupo Desportivo do Sesimbra. Já não colava cromos desde pequena e achei piada à ideia.


Cheguei a casa e senti-me uma menina a virar páginas onde pequenas figuras autocolantes iam ocupando espaços vazios. Obviamente não conheço ninguém, mas é uma forma de me sentir mais ligada e presente na vida local.

O difícil agora vai ser passar por Sesimbra com regularidade para comprar mais cromos, até porque já tenho vários repetidos. Será que dá para trocar?

2 comentários:

Anónimo disse...

A troca de cromos tem sido muito gira com miudos e graudos a efectuarem as trocas e baldrocas. Pode sempre dar um saltinho até Sesimbra e ao fim do dia fazer umas trocas.

Ka disse...

E faço as trocas com quem? Não conheço ninguém por lá. :)

Já me estou a ver a discutir com criancinhas por causa dos cromos. :D