O dia começou cedo, ainda o sol não tinha aparecido e o frio da madrugada arrefecia-nos o espírito. Quando saímos do albergue demorámos algum tempo até achar o caminho correcto, o que nos desmoralizou um pouco, juntamente com as mazelas que trazíamos de véspera. Eu sabia que existiam troços de caminho que não seriam fáceis mas o dia em si não seria dos mais complicados. Contudo para a C. a história foi bem diferente, uma vez que tinha os pés numa desgraça de bolhas e ligaduras. Enquanto caminhávamos na nacional, com camiões que aumentavam o frio, barulho e angústia do espírito, tivemos de fazer uma primeira paragem, mesmo na berma, para que a C. colocasse novas ligaduras. Percebi nesse instante que a penitência dela estava a começar.
Quanto a mim apareceram as primeiras bolhas e as dores musculares aumentaram o que me fez recear pelos dias vindouros.
Dei comigo a pensar numa frase que li antes de encetar a viagem e que dizia que se queremos que Deus entre no nosso coração, então temos de deixar espaço para que ele o ocupe. E isso aplica-se a todas as situações da vida: se queremos que algo aconteça e faça parte de nós, então temos de estar receptivos a essa entrada, mudança.
A subida íngreme perto do albergue de Mós fez algumas mossas a nível muscular: aquele troço continuava a ser tão horrivel quanto me lembrava. Sentei-me no chão à espera da S. e da C., que tinham ficado para trás. Nesta altura já me estava a borrifar para o sítio onde me sentava, qualquer berma de estrada servia, mesmo com carros a passar bastante perto. Lembrei-me de ter feito aquele troço no ano transacto em condições bem piores e de ter conseguido e isso deu-me algum alento.
A passada foi feita de forma lenta. A C. teve de aplicar mais pensos e ligaduras, e quer eu quer a S. olhámos para os pés dela com bastante preocupação. Por esta altura também a S. começava a sentir maiores dificuldades nas descidas devido aos problemas num dos joelhos. Emprestei o meu bastão à C., de forma a ter mais um ponto de apoio e fazer menos esforço e, consequentemente, tentar apaziguar as dores.
Mesmo assim fomos das primeiras a chegar ao albergue de Redondela, que ainda se encontrava fechado. Tomámos banho, tratámos dos pés e eu e a S. decidimos dar uma volta. A C. decidiu não sair, estava bastante em baixo neste dia.
Albergue de Redondela
Voltei a pensar na vida que deixei em Portugal, nas pessoas com quem me partilhava e na importância que isso tem e deve ter. Mais importante: sou eu que construo o meu próprio futuro e o meu caminho!Ninguém me pode retirar isso...
1 comentário:
Quero mais, quero lêr mais!
Beijinhos
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