domingo, 7 de setembro de 2008

Caminho Português de Santiago- Dia 1

Dia 17 de Agosto: Ponte de Lima - Valença



O dia começou cedo em Ponte de Lima, encontrámo-nos às 6:30 na ponte romana com a C., a italiana que tínhamos conhecido na véspera, na camioneta.
Seguimos caminho, tentanto identificar as primeiras setas amarelas no trajecto, e rapidamente nos deparámos com charcos de água e lama, quase intransitáveis. Na maior parte dos casos conseguimos contornar a lama, noutros não foi possível o que acabou por levar a algumas gargalhadas.
A certa altura do trajecto eu e a C. começámos a sentir a necessidade de um ponto de apoio, uma vez que a S. já tinha o seu bastão. Ao passarmos por um monte de lenha olhámos uma para a outra e começámos a ver se existia algum pedaço que pudesse servir. A certa altura aproximou-se uma senhora e eu, pensando que era a dona da lenha que estavamos a tentar "roubar" tentei avisar a C., de forma rápida e embaraçada. Quando olhei para o lado já a mulher estava ao nosso lado, sacou rapidamente de um pau, que partiu de forma lesta no joelho. Deu uma metade à C., e a outra a mim dizendo que podia ser útil para subirmos a serra.

Tínhamos acabado de arranjar os bastões, fiéis companheiros de caminho, que se iriam moldar às nossas mãos e passadas de alma.


O riso e boa disposição acabaram quando chegámos à Serra da Labruja. Sempre ouvi dizer que este troço do caminho era dos mais difíceis, mas nada me preparou para o que aí vinha: debaixo de um sol quente de Verão deparámo-nos com terrenos íngremes, feitos de terra batida ou pedras irregulares. Algumas subidas eram de tal forma íngremes e com poucos pontos de apoio, que senti necessidade de as fazer de forma contínua, não fosse parar e o peso da mochila me tombar para trás.
E constantemente lembrei-me das palavras do meu amigo M. que já tinha feito aquele troço: "quando pensares que não pode existir subida pior que a que fizeste, prepara-te! A seguir vem uma pior!". O desânimo toldou-me o espírito com tal caminho desolador.

Chegámos ao albergue de Rubiães por volta do meio dia. O albergue encontrava-se vazio e depois de conversarmos, uma vez que ainda era cedo e nos encontrávamos bastante bem a nível físico, decidimos prosseguir caminho até Valença. Foi o pior que fizemos... Os primeiros Km correram bem, uma vez que o terreno não era complicado, mas o cansaço provocado pela Labruja, os vários km ainda por fazer e o calor que se começava a fazer sentir tiveram as suas consequências. A C. e a S. começaram a sentir as primeiras bolhas formarem-se. No meu caso foram as dores musculares. Comecei a sentir dores que a cada passo que dava me impediam de prosseguir de forma lesta. Primeiro a perna direita com dores musculares intensas, depois o pé esquerdo. Já não conseguia andar nem coxear, apenas arrastar-me, receando que as câimbras aparecessem a qualquer momento. Eu, que normalmente tinha o passo mais rápido das 3, comecei a ficar para trás. Deixei o desânimo e a falta de fé inundarem-me. Dava apenas uns passos e tinha de parar. Em alguns momentos pensei em não me levantar pois não sabia se conseguiria voltar a andar. Tentei abstrair-me das dores pensava nos objectivos que me tinham levado até ali e tentando ganhar forças para os últimos km.

Completamente arrasadas chegámos ao albergue de Valença onde pudémos descansar e tratar das primeiras mazelas. Tratei das pernas e pés inundada de tristeza e desânimo. Costumava dizer às pessoas para não se deixarem abater pelo primeiro dia, que era sempre o pior, mas esse concelho não serviu para mim...E isso fez-me lembrar a minha falta de humildade...

Tentei fazer os meus últimos contactos com Portugal, tentando ganhar forças através da energia das pessoas que me eram importantes. Deitei-me sem saber se conseguiria andar no dia seguinte, pensando que talvez o meu caminho ficasse por ali e tivesse de desistir....

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