terça-feira, 7 de setembro de 2010

Solidões opacas

Lá de onde eu venho existe um mercado daqueles de rua, que costumamos designar de "mini" por não encher os requisitos de hipermercado ou algo do género.
Quando regresso a casa a paragem de autocarro onde costumo sair é pertíssimo, pelo que todos os dias passo à porta dessa zona comercial.

Há já algum tempo reparei que existe uma senhora que todos os dias à mesma hora, se senta no muro que circunda o mini mercado. Idosa, desloca-se vagarosamente com a ajuda de um andarilho, como quem faz da passagem do tempo o seu companheiro de viagem. A pele morena e enrugada envolve um corpo magro e talhado pelas indifirenças e dificuldades da vida. Os olhos vítreos de tristeza espelham uma realidade que ninguém quer ver ou sentir.

E depois fica ali, sentada, em silêncio a ver as pessoas passar, a ver a vida correr...
Só a vi sorrir uma única vez, altura em que se encontrava acompanhada por uma outra senhora também idosa e falavam animadamente. Os seus olhos ganharam luz e esboçou-se um sorriso de menina enquanto as palavras tropeçavam a sair da sua boca.

Mas foi apenas uma vez... essa vez.
O silêncio e solidão caracterizam-na e cada vez que ali passo e a vejo o meu coração encolhe-se, amargaruda pela minha falta de coragem ou pela minha impotência.

Ela tenta ligar-se ao mundo, mas o mundo desliga-se dela...

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