sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Os gajos são loucos carago!

No meu trabalho por vezes tenho serviço externo, normalmente em Lisboa ou arredores, mais esporadicamente para outras zonas do país. Ontem foi um desses dias, numa odisseia difícil de esquecer.
Tinha agendado uma reunião no Porto e como tal requisitei uma viatura de serviço previamente, o que é sinónimo de "chasso" a cair aos bocados, com grande probabilidade de ficar empanada na estrada.

Uma vez que ia para o centro do Porto lá me aconselharam a requisitar também um GPS para facilitar a tarefa. Pensei "Uau! GPS! Que chique!", eu que normalmente me guio por mapas desactualizados.
E aí começou o fadário... às 6:20 da manhã tive a confirmação de que o GPS não funcionava, estava como que *bloqueado*. Mas como sou uma mulher prevenida levei num post it rançoso alguns pontos de referência e tinha impresso no site da Michelin o itinerário. Comecei foi a perceber que o post-it e o itinerário Michelin não coincidiam (e o GPS morto), pelo que tive que improvisar. Ora improvisar no Porto quer dizer o mesmo que me perder! E foi logo no início...

Queria chegar à rotunda da Boavista e com o raio dos sentidos obrigatórios enganei-me e em vez de virar à esquerda virei à direita. Tentei voltar para trás e foi impossível. E porquê? Porque não existiam ruas para virar à esquerda nem rotundas!!!!!! Que raio de cidade é aquela Meu Deus! Tive obrigatóriamente de seguir em frente e já andava pelo Palácio de Cristal e sei lá mais por onde. Ao fim de imenso tempo e alguns golpes de sorte lá consegui chegar ao raio da Boavista. E isto enquanto a chefe de serviço me telefonava a dar indicações para a reunião "não se esqueça disto! Alerte para aquilo!".
A partir daí fui seguindo as indicações da folha impressa e dei por mim e estava perdida (e os minutos a passarem). Parei em frente a uma drogaria e decidi perguntar e lá me orientaram para um dos pontos de referência, a Igreja da Lapa. Mais não sei quantos minutos em ruas apertadas à esquerda e à direita (com um carro que não tem direcção assistida) e eu, tal como num filme cómico, a ver o raio da Igreja e passava ao lado, por trás, e sei lá mais por onde, mas não pelas ruas que queria! E isto por causa dos sentidos obrigatórios e proibidos. E os minutos continuavam a passar e eu já atrasadíssima para a reunião. Dei por mim já andava sei lá por onde... ele era Aliados, ele era a Constituição, ele era sei lá o quê...
E depois os portuenses são doidos a conduzir! Não fazem pisca e viram. Nããã!! Eles viram e depois fazem o pisca! Ia batendo várias vezes à pala destas tripeiradas.
Em mais uma rua estreita a pique no meio do Porto (já a igreja tinha ficado lá para trás) e com carros a fazer marcha atrás e quase a baterem no meu, decidi dar um grito de revolta! Estacionei a sucata velha num parque qualquer e decidi ir a pé. E foi o melhor que fiz. Ainda tive de andar um bocado, passar em sítios esquisitos, pagar um dinheirão de estacionamento mas se não fosse assim ainda andava hoje à procura do sítio da reunião.
Quando lá cheguei deparei com uma rua calma e com sítios para estacionar e perto da Igreja da Lapa que, imagine-se, fica pertíssimo da rotunda da boavista!

Para sair do Porto...tcharan!!! Mais uma hora! Lá andei perdida, mas desta vez mudei o itinerário e passei pela praça dos leões, a rua Ferreira Borges (que me lembra sempre o Monopólio) e sem saber como já andava nas ruas estreitas e velhas do Porto onde cabe apenas um carro mas que afinal tem dois sentidos! E isto tudo, como se recordam, com a sucata em que é preciso comer 5 bifes para virar o volante 1 cm. Enfim...

Em hora de ponta e a querer ver uma tabuleta que dissesse *Lisboa*, fui dar à porra da Ribeira. Se quisesse lá ir tomar um café não conseguia, mas como estava perdida e queria ir para o lado oposto...ora bem, lá estava eu na belíssima ribeira! Fui andando na direcção oposta do trânsito, já desesperada, a ver a ponte da Arrábida à minha frente mas sem lá conseguir chegar. Mas lá diz o meu pai que "o melhor do Porto são as tabuletas a dizer A1: Lisboa" e ao fim de 1 hora perdida por becos e meandros e a fazer *turismo* forçado na capital do norte, lá achei a bendita tabuleta. Ahhhh...quase tive um orgasmo psicológico! A partir daí a coisa ficou facilitada e quando entrei na Auto-estrada dei pulinhos de alegria no banco!

Agora eu deixava aqui um guia de sobrevivência para se conduzir no Porto:

* Que raio de ruas são aquelas que apenas têm tabuletas num dos lados? Ou seja, quem sobe uma rua tem de parar e esticar o pescoço para trás para ver o nome da rua! Isto quando existem num dos lados! Solução: cagar nas indicações e nomes de ruas;

* Quando alguém se engana numa rua é impossível voltar para trás porque não é possível virar à esquerda nem existem rotundas. Solução: Não há, é seguir em frente e rezar para não se ir parar a Espanha;

* Deixar uma distância de muitos metros em relação ao condutor da frente, pare ele poder fazer mudanças bruscas de direcção quando lhe apetecer ou fazer maluqueiras em marcha atrás e quase bater no nosso carro;

* Já que ninguém nos dá passagem a solução passa por nos enfiarmos numa manobra louca e perigosa à condutor de "carros de tunning" e esperar que não nos batam. Quando começarem a dizer asneiras, replicamos e damos ar de que temos nós a razão apesar de termos sido obrigados a passar um duplo traço contínuo;

* Não existem tabuletas com indicações para sair do Porto, apenas tabuletas com sítios turísticos como o Museu do Vinho do Porto e...mais nada. No Porto não existem sítios turísticos. Cá para mim os gajos são loucos e quem entra ali já não sai! Solução: Tentar manter a sanidade, apreciar o passeio turístico em ruas apertadas e escuras e com sorte pode ser que se ache uma tabuleta ao fim de 5 horas.

* Não existem faixas de rodagem porque estão todas ocupadas com carros em terceira fila. Solução: avançar pelo meio da faixa em contramão.


Talvez com este texto se possa pensar que sou uma lisboeta que detesta o porto, numa espécie de bairrismo desproporcionado. Errado. Aprendi a gostar do Porto, a apreciá-lo. Bem, na verdade adoro o Porto! Acho-o bonito e charmoso, é uma cidade que inicialmente se estranha e se desgosta, mas depois se entrenha.

Amo Lisboa, a luz, o cheiro, as vivências e misturas. Lisboa é uma cidade Cosmopolita (a minha cidade), mas o Porto, para mim, é o oposto. É uma cidade ainda muito virada para o passado, para o tradicional, com as casas baixas, velhas e escuras e comércio tradicional e antigo, conjugado com algum modernismo e charme. Dá uma mistura estranha, mas muito boa.


Mas que eles são loucos a conduzir, são! Fiquei traumatizada!

3 comentários:

Anónimo disse...

De onde se conclui que o Alfa é a melhor forma de chegar ao Porto ;)
Depois... Andante: pois o metro do Porto é um deleite!

Também adoro o Porto e sinto falta da pronúncia deles.

Nenuphar disse...

Costuma-se dizer quem conduz em Lisboa conduz em todo lado:) mas tou a ver que não é verdade:D eu vivi uns dias em Lx e achei aquilo impossivel, so consuguia pegar no carro aos fins de semana e mesmo assim dava cabo da minha paciencia!
Adoro Lisboa é uma cidade cheia de vida e com muitos contrastes é uma cidade onde adora poder viver!:)

Ka disse...

Lalage, definitivamente a melhor forma de chegar ao centro do Porto é através de Alfa-Metro!

Nenuphar, toda a vida ouvi dizer que quem conduz em Lisboa, conduz em todo o lado e durante um tempo achei isso. Existem 2 excepções: Amadora (é impossível uma pessoa não se perder ali!) e o Porto pela maluqueira dos condutores e pela falta de sinalização adequada!