Nos contornos estrangulados da vida deixamos sempre escapar, de forma inesperada, o que quisemos guardar no baú mais recôndito da memória. Pensava ter acondicionado tudo muito bem numa caixa funda de madeira polida, que se foi gastando com o tempo. Tapei-a com um pano e escondia-a entre recordações e situações inúteis, tentando desvalorizar aquilo que ela representava. A chave, essa, atirei-a para o lago do esquecimento para que não fosse possível voltar a abrir o baú.
Mas a madeira gasta-se e apodrece com o tempo, fazendo com que surjam fissuras que se alargam cada vez mais à medida que os dias e anos passam. E nessas fissuras vai-se soltando e fungindo o conteúdo que quisemos esquecer e agora reaparece.
E quando tudo se soltar?
E quando tudo reaparecer?
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