terça-feira, 26 de outubro de 2010

Espíritos fracos - a desumanidade das pessoas

Já devem ter reparado que não tenho andado muito por aqui. Sinto-me numa fase desmotivada da vida. Acontece com todos.
Depois de ter conseguido que os meus pais ficassem com o cão que andava na minha rua, o Zaire, e de muitas peripécias nos entretantos, deparo-me agora com nova tragédia.

Ainda há pouco tempo comentava com um amigo a desumanidade das pessoas, na mentalidade retrógada e fria que muita gente apresenta. E quanto mais conheço as pessoas mais me apercebo disto e mais me desencanto com a chamada "humanidade".

Como não costumam existir coincidências, e no mesmo dia em que me disseram para guardar um resto de carne do almoço para cães vadios, deparei com mais uma situação dramática.
Após o jantar decidi ir dar uma volta perto de casa e ao fundo da minha rua vejo um cão deitado debaixo de um carro. Veio logo ter comigo com um ar gingão de cachorro. Reparei que tinha coleira e dei uma vista de olhos para averiguar se teria algum contacto pois poderia estar perdido. Nada de contacto... comecei a ficar ansiosa e desconfortável com a situação, talvez por começar a perceber o que aí vinha...
Ao deparar com uma senhora que tinha vindo à janela perguntei se o cão era de alguém dali ou andava perdido. Informou-me que o cão tinha sido abandonado há quase uma semana ali, preso pela coleira a um poste, sem comida nem água!! Foi um vizinho que acabou por o soltar e algumas pessoas foram-lhe dando restos de comida e ele foi ficando. Quando ouvi isto foi como se tivesse sido fulminada com um raio... A trela ainda estava amarrada ao poste e o cão chorava quando a via. A senhora ainda informou que já tinham chamado o canil mas que este não se mostrou disponível para lá ir naquele momento. Foi o que valeu! Expliquei-lhe que passados 8 dias num canil, os cães podem ser abatidos. A senhora pareceu visivelmente surpreendida (pergunto-me como é que existe alguém que não saiba isto??).

O resto da história não é difícil de adivinhar. O cão seguiu-me até casa e tive, tal como fazia com o Zaire, de lhe fechar a porta no focinho. Os olhos tristes seguiam-me enquanto subia as escadas e o meu coração se apertava. Ainda voltei abaixo para lhe dar os tais restos de carne que tinha guardado do almoço. Estava esfomeado.
Voltei a cair nesta ansiedade que sinceramente não queria nem estava preparada para viver. A situação do Zaire envolveu-me muito e sei como foi difícil arranjar donos - tive a sorte de os meus pais se sensibilizarem com a situação e o acolherem - mas voltar a viver isto não augura nada de bom.
Nessa noite não dormi nada de jeito a pensar na situação e no que deveria fazer. Alimentá-lo pressuponha novamente o meu envolvimento numa situação que me afecta bastante. Teria de lidar diariamente com a situação de lhe fechar a porta no focinho ou angustiar-me cada vez que chove. Não lhe dar comida rói-me a consciência e aperta-me o coração.

Ando desde sábado neste dilema ético e emocional por um lado, e pelo outro extremamente desiludida com as pessoas, com a vida. De pensar que se salva um cão, mas existem mais 4 ou 5 em risco ou abandonados pelas chamadas "pessoas".

Apesar de serem poucas as pessoas que aqui param, faço novamente o apelo para quem queira adoptar um cão. Mesmo que não queiram comentem com a família, amigos, vizinhos.
É cachorro (nota-se pelo andar e postura), talvez com cerca de 8 meses, pêlo curto castanho, extremamente carente. Corre risco sério de ser atropelado ou levado pelo canil.

2 comentários:

Anónimo disse...

Até faz doer... O que é que se pode fazer? Há associações como a Sociedade Protectora dos Animais, eles ficam com o cão e as pessoas podem ir lá levar ração e contribuir de alguma forma para ele. Não sei...

Ka disse...

Lalage, já contactei duas associações e ambas me disseram que não tinham possibilidade pois estavam sobrelotadas. :(