quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Vida de subúrbio e o transporte de gado vivo

Dia de chuva.
O autocarro para a estação de comboio chega e é mais pequeno que o habitual. A minha sobrancelha cerra-se e pensa "isto não vai correr bem" apesar de ainda conseguir achar um lugar para me sentar. Na paragem seguinte mais uma fila enorme de pessoas para entrar que se vão acumulando em todos os espaços vazios. Começa-se a sentir algum descontentamento e ainda falta mais uma paragem antes da estação. O autocarro lá vai andando, entre o trânsito e o calor que se vai fazendo sentir dentro da viatura, enquanto os chapéus de chuva entrelaçavam-se nas pernas e nos pés de quem por ali estava.
Ao chegar à última paragem antes do destino consigo observar a cara de horror das pessoas que se encontravam numa fila enorme para entrar no autocarro já cheio. E tinham que entrar pois o próximo era só dali a 20 minutos.
Começa o pandemónio, com o autocarro a parecer uma lata de sardinha e as pessoas a acumularem-se. Algumas entram pela porta de trás enquanto as da frente empurram. A certa altura ouve-se da zona da porta:
-"Eh pá, falta entrarem mais 2 pessoas! Cheguem para trás!"
Rapaz junto da janela: -"Duas pessoas?! Mas isto já está cheio!"
Amigos sentados: -"reclamem com as pessoas que põem estes autocarros pequenos a esta hora!"
Alguém grita: -"entrem pela porta traseira!"
Pessoas que estavam na porta traseira, em uníssono: -"Por aqui também já não dá! Entrem pela frente!"

(A esta altura comecei a pensar se estaria num autocarro ou num guião de filme pornográfico)

Amigos sentados: -"Olha agora, o motorista não anda enquanto não entrarem as pessoas!"
Vozes dispersas: -"Oh amigo, já estou atrasado!"
Vozes na zona de entrada: -"Eh pá, cheguem para trás! Faltam 2 pessoas!"
Rapaz da janela já enervado: -"Mais quais 2 pessoas, quais 2 pessoas?! Não dá! Está cheio! Eu se saio daqui começo ao soco a toda a gente!!!!"
Senhora agarrada ao varão: -"Xiça! Ainda bem que não estou ao pé dele!!"
Rapaz da janela: -"Duas pessoas....olha esta...entrem pelo tejadilho! Toca mas é a andar!"
- (Senhora entalada entre um varão e um banco): -"Um livro de reclamações dava jeito!"
Amigos sentados: -"Estamos tramados...Tenho de entrar às 8:30 e isto não anda! O motorista não consegue fechar a porta e isto não anda! Não saímos daqui hoje..."

Ao fim de largos minutos e de várias tentativas para fechar a porta, lá arrancou o autocarro completamente a abarrotar, ficando as 2 pessoas cá fora e enquanto um rapaz contava aos amigos como tinha visto um autocarro em Lisboa tombar com o peso dos passageiro. Senti-me como uma ovelha num camião de transporte de gado vivo e cada vez que o autocarro fazia a curva estava a ver que tombava mesmo ainda por cima para o meu lado.

Ah, e o louco lá estava sentado! Que medo!

E viva a vida de subúrbio!

E viva o transporte de gado!

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