sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Lar doce lar

Ontem, num momento de fraqueza em que precisava de pensar e me acalmar, senti que precisava de ver o mar, o azul do céu, o vento acariciar a minha cara e sussurrar-me ao ouvido as indicações que precisava para me orientar.
Sem saber muito bem onde ir, deixei-me levar até encontrar placas esbatidas na estrada a indicarem "Cabo Espichel". Recordava-me de ter ido lá em pequena com os meus pais, mas não me lembrava de grandes detalhes. Surgiram-me algumas imagens na cabeça, nomeadamente a vista, o vento e as barraquinhas com artesanato para turistas. Ainda demorei algum tempo a lá chegar e pelo caminho fiquei com a sensação de que estava a entrar numa zona diferente, onde o amarelo dos campos contrastavam com o azul do céu. E imediatamente comecei a sentir-me mais calma, mais apaziguada.
Quando cheguei encontravam-se poucos carros estacionados. Para trás tinha ficado o caminho que se dirigia até ao farol, mas eu queria estar mais recolhida. Optei pela zona da Igreja. Escolho sempre igrejas, ainda não percebi porquê. O cruzeiro, no início do átrio ladeado por arcos,

revelava um sítio religioso onde se encontrava, ao fundo, a Igreja do Cabo que se encontrava fechada. Passei pela igreja e do outro lado deparou-se um cenário fantástico: o sol a pôr-se atrás do mar, enquanto gaivotas esvoaçavam por ali.

Fui até à ermida da memória, um pequeno edíficio que me fazia lembrar edificações mouras ou algo do género. E fiquei ali, algum tempo, a ver o mar enquanto esperava por respostas, esperava por apaziguamento e paz.
Já tinha lido num folheto qualquer da zona que o Cabo Espichel já foi uma zona de romaria, de peregrinação. Talvez tenha sido isso que me levou lá. Entretanto percebi que no século XIV foi construída uma ermida para albergar uma imagem da virgem e, aos poucos, o local foi-se expandido graças aos peregrinos que até ali rumavam. Os arcos que ladeavam o átrio têm o nome de círios, e em tempos passados eram quartos onde os peregrinos pernoitavam.
Quando se faz uma peregrinação existe algo mais forte que perdura, e que acaba por fazer parte de nós. Uma vez peregrino, sempre peregrino.
Talvez por isso me tenha sentido tão bem ali. Foi como se já conhecesse aquele local há muito tempo.
Foi como se estivesse em casa novamente...

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