domingo, 30 de agosto de 2009

Caminhar na Solidão

Passou quase 1 mês desde que aqui escrevi pela última vez, ausência pautada sobretudo por um período de férias que me soube bastante bem mas que passou bastante depressa, como seria de esperar.

Mas estas semanas foram pautadas por outros acontecimentos importantes também, nomeadamente (re)definições, trajectos, sonhos realizados.

Fiz pela terceira vez o Caminho Português de Santiago, ou pelo menos um troço dele, uma vez que comecei em Ponte de Lima já bastante perto da fronteira com Espanha. Apesar de não ser uma experiência nova para mim, esta foi a primeira vez que o percorri sozinha. Um desafio e um sonho que se vem formando desde que tomei contacto com este caminho de alma. Sabia que caminhar sozinha era substancialmente diferente de caminhar acompanhada, e era exactamente essa "solidão" que procurava, essa paz de alma e esse silêncio que nos levam a um lugar imaginário onde podemos contactar com a nossa essência. Mas nada me preparou para o que viria a viver. Tive de penar para conseguir chegar a Santiago, e de nada me valeu a experiência de anos anteriores. Pela primeira vez tive imensas bolhas logo desde o primeiro dia, pela primeira vez tive de aprender a rebentá-las e tratá-las. Pela primeira vez tive dores nos joelhos e tornozelos, ao ponto de ficarem inchados, ao ponto de ter de usar várias ligaduras. Pela primeira vez acordava todas as manhãs sem saber se conseguiria andar. Pela primeira vez tive vontade de me sentar à beira da estrada e desistir. Senti e vivi sensações que nunca tinha experiênciado, incluíndo fisicamente e isso fez-me ver a realidade, a minha realidade, num outro prisma, embora tenha ficado com a sensação de que deixei escapar muitas lições importantes, talvez por não estar suficientemente receptiva. E sinais. Sinais que me recordavam a família, a casa e o que tinha deixado para trás, as pessoas importantes da minha vida, e as que serão sempre inesquecíveis. Tive ajuda de onde não esperei, ouvi palavras certeiras que me fizeram pensar, questionar, sorrir, amar. Ouvi músicas religiosas que me fizeram chorar apesar de não ser católica, adormeci a ver o nascer do sol, sonhei acordada, cantei à chuva, falei sozinha, conheci pessoas que me marcaram.


Fechei mais um ciclo. E fiz o caminho, o meu caminho. O verdadeiro caminho.