quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Senhor do Adeus

Têm surgido na Internet movimentos de apoio e saudade ao Senhor do Adeus, o homem que costumava acenar aos carros no Saldanha. Até já existem petições para erigir estátuas em sua homenagem.
O Senhor do Adeus era uma personagem típica de Lisboa. Não havia quem não se tivesse cruzado com ele pelo menos uma vez. Eu conhecia-o lá da rua, onde vivi até há bem pouco tempo. Sim, isso mesmo, ele vivia uns prédios abaixo do meu e toda a gente o conhecia por ali, nem que fosse de vista. Recordo-me de o ver com a mãe e recordo-me de, quando esta faleceu, ele todos os dias ao fim da tarde sair de casa em direcção ao Saldanha. Nascia nessa altura o mito que hoje em dia toda a gente conhece. E isto já foi há alguns anos.

Mas recordo-me que nessa altura ninguém falava em estátuas nem nada do género. Pelo contrário... Lembro-me de muitas vezes ouvir comentários em como era "maluco"ou "não batia bem da cabeça". As pessoas olhavam com desconfiança e afastavam-se com desprezo, ou passavam de carro e gozavam com ele. Se calhar muitas das pessoas que hoje em dia o elogiam e dizem que foi um herói...

O que ele fez é, de facto, de louvar. Indiferente aos comentários depreciativos que muitas vezes ouviu deu uma parte de si, partilhou-se no melhor que tem o ser humano, nem sempre sendo compreendido, porque temos uma tendência natural para achar que fazer bem e ser generoso é depreciativo, parvo e tem sempre segundas intenções. Acho que a humanidade se tem vindo a perder porque a atitude dele deveria ser a atitude de todos nós, e não a excepção...

O Senhor do Adeus apenas veio realçar esta veia humanitária que todos possuímos mas temos vergonha de demonstrar. E enquanto se elogia um homem, esquecem-se todos os outros de que ninguém fala.
Nas portagens da Ponte 25 de Abril existe um funcionário que recebe e fala com toda a gente como se nos conhecesse há anos! "Olá! Está boa?! Estava com saudades suas! Um beijinho e bom dia!" As pessoas chegam carrancudas e a reclamar dos preços e saem com ar de felicidade e a sorrir. Pelo menos comigo é assim.
As pessoas que todos os dias salvam animais ou as que fazem companhia a idosos abandonados ou isolados, dessas ninguém fala.

O senhor do adeus somos todos nós...

2 comentários:

Pedro Mendes disse...

Já apahei esse senhor na portagem e deixa que te diga que ele é simpatico, vai para o trabalho com um sorriso e transmite a quem paga para passar uma ponte paga a muitos anos... simpatia é alegria, já dizia a minha tia!!

Ka disse...

E ninguém fala desse senhor, ou das pessoas que nos recebem com um sorriso na rua.

E porque não fazemos todos isso?