quarta-feira, 16 de março de 2011

Vida diferente

Costumo imaginar-me numa vida diferente, com hábitos e rotinas opostas às que tenho. Acho que sempre desejei ser outra pessoa.
Quando era pequena imaginava que iria chegar aos 30 anos banhada de sucesso em todos os campos, que iria ser uma mulher moderna e cosmopolita, com uma carreira em ascensão, poderosa, confiante, apaixonante.
Nunca imaginei o cenário que todos os dias vivo: uma rapariga baixinha, que vive nos subúrbios e se desloca para Lisboa para trabalhar, adormece cedo e vive rotinas consecutivas, sem grandes ambições ou fantasias.
Claro que à medida que os anos passaram, essas fantasias iam-se ajustando e aproximando a um maior realismo.
Mesmo assim, todos os dias quando entro no comboio e vejo rapazes e raparigas a ouvir música com auscultadores grandes imagino-me novamente num outro mundo.

Sim, gostava de ter uns auscultadores que não são nem chiques nem ecléticos, antes práticos e descontraídos mas modernos ao mesmo tempo.
E imagino-me a viver essa realidade: uma realidade onde vou trabalhar descontraída, com esses auscultadores e uma roupa prática, a mochila com livros e cadernos onde vou rabiscando o que me vai na alma. Imagino que as esplanadas repletas de sol enchem os meus dias onde vou escrevendo ou lendo sendo essa a minha tarefa diária. Poder trabalhar em casa ou num local descontraído e flexível enchem as minhas fantasias. Até gostava de ser bem mais nerd do que o que sou, de conhecer, ver e ouvir coisas fora do registo habitual e comercial a que estou habituada.
Seria assim uma pessoa diferente com uma realidade diferente. Podem sempre dizer "então mas se não és feliz, porque não mudas?". Não se pode dizer que não seja feliz, porque sou. Muito do que hoje vivo partiu de conquistas e opções conscientes da minha parte. Até me considero uma felizarda a quem a vida foi beneficiando. Mas acho que sonhar é bom e que nos idealizamos sempre diferentes, sempre especiais! É claro que poderia fazer e viver muito do que aqui apregoou e acabo por me acomodar, mas também existe um tempo e uma idade para tudo. E existe uma realidade que nos cabe respeitar.
Sonhar permite-me projectar e, por vezes, concretizar o que idealizei, seja por mero capricho ou porque a vida me leva até lá...

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