Lá de onde eu venho existe um mercado daqueles de rua, que costumamos designar de "mini" por não encher os requisitos de hipermercado ou algo do género.
Quando regresso a casa a paragem de autocarro onde costumo sair é pertíssimo, pelo que todos os dias passo à porta dessa zona comercial.
Há já algum tempo reparei que existe uma senhora que todos os dias à mesma hora, se senta no muro que circunda o mini mercado. Idosa, desloca-se vagarosamente com a ajuda de um andarilho, como quem faz da passagem do tempo o seu companheiro de viagem. A pele morena e enrugada envolve um corpo magro e talhado pelas indifirenças e dificuldades da vida. Os olhos vítreos de tristeza espelham uma realidade que ninguém quer ver ou sentir.
E depois fica ali, sentada, em silêncio a ver as pessoas passar, a ver a vida correr...
Só a vi sorrir uma única vez, altura em que se encontrava acompanhada por uma outra senhora também idosa e falavam animadamente. Os seus olhos ganharam luz e esboçou-se um sorriso de menina enquanto as palavras tropeçavam a sair da sua boca.
Mas foi apenas uma vez... essa vez.
O silêncio e solidão caracterizam-na e cada vez que ali passo e a vejo o meu coração encolhe-se, amargaruda pela minha falta de coragem ou pela minha impotência.
Ela tenta ligar-se ao mundo, mas o mundo desliga-se dela...
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